Por Marcos Bagno
Segundo as estatísticas, o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com maior número de usuários da internet. Acima dele somente China, Estados Unidos e Japão, em ordem de importância. Sem dúvida, é essa nosso presença que faz do português a quinta língua mais empregada na rede, depois do inglês, do chinês, do espanhol e do japonês - afinal, entre os países, Portugal aparece somente em 49º lugar.
Segundo as estatísticas, o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com maior número de usuários da internet. Acima dele somente China, Estados Unidos e Japão, em ordem de importância. Sem dúvida, é essa nosso presença que faz do português a quinta língua mais empregada na rede, depois do inglês, do chinês, do espanhol e do japonês - afinal, entre os países, Portugal aparece somente em 49º lugar.
Quando
observamos esses números, dá até vontade de comemorar: somos mesmo uma potência
emergente, a sétima economia mundial, e nossa presença na internet só
vem confirmar isso. Mas antes de soltar foguetes, convém olhar para outros
números. Dessa vez, os números da Wikipédia, uma das invenções mais geniais da
história do conhecimento humano.
Claro que é
covardia fazer qualquer comparação com o número de artigos em inglês (que
superam os três milhões), já que essa é a língua materna de países altamente
desenvolvidos em todos os campos da ciência e da tecnologia (Estados Unidos,
Reino Unido, Canadá, Austrália, etc.), além de ser também a língua mais
empregada como meio de comunicação na ìndia (um bilhão de habitantes), bem como
a língua franca internacional. É bem provável que muitos dos artigos em inglês
da Wikipédia sejam de autoria de pessoas que não têm essa língua como seu
idioma materno.
Mas não é
covardia comparar os números de artigos em português com outras línguas que
apresentam números semelhantes. Vamos começar pelo holandês, que tem cerca de
23 milhões de falantes no mundo todo (dez por cento dos falantes de português),
mas apresenta mais de 851.000 artigos na enciclopédia virtual. Podemos também
citar o polonês (44 milhões de falantes) com mais de 840 mil artigos e, por
fim, o italiano (62 milhões de falantes) com mais de 855 mil artigos. Essas
línguas reunidas perfazem a metade dos falantes de português no mundo (230
milhões). No entanto, nossa língua exibe apenas pouco mais de 700 mil artigos
na Wikipédia. E a qualidade da maioria desses artigos deixa muito a desejar:
são incompletos, incorretos e muito mal escritos.
Qual o
mistério? Nenhum. Sabemos que somente 25% dos brasileiros maiores de 14 anos
são capazes de ler e compreender um texto de dificuldade média. Esse é um
número que não se move há dez anos nos quadros estatísticos. Além disso, nossa
secular desigualdade social também se reflete no mundo digital: entre os 10%
mais pobres, apenas 0,6% têm acesso àinternet; entre os 10% mais ricos
esse número é de 56,3%. Somente 13,3% dos não-brancos usam a internet,
mais de duas vezes menos que os brancos (28,3%).
Por fim,
vale lembrar que somos o sexto país em números de usuários do Facebook e
que metade dos usuários mundiais do Orkut estão aqui. Devemos
mesmo comemorar alguma coisa? Em vez de empregar a rede mundial de computadores
para a produção e a aquisição de conhecimento, preferimos nos dedicar à
"interação social" (haja aspas) e à "amizade" quantitativa.
Entramos na cultura digital sem termos passado tempo suficiente na cultura
livresca. Será que isso é bom?
Marcos
Bagno é linguista, escritor e professor da UnB - www.marcosbagno.com.br
(Fonte: Caros Amigos, ano 15, n. 177, p.8, dez. 2011)
(Fonte: Caros Amigos, ano 15, n. 177, p.8, dez. 2011)
Fonte: www.ofaj.com.br
Disponível em: http://www.ofaj.com.br/textos_conteudo.php?cod=385
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